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segunda-feira, 28 de março de 2011

Cooperação x Competitividade

Embora esse blog seja voltado para as tecnologias educacionais, sejam elas tecnologias eletrônicas ou humanas, creio que em alguns momentos, valha a pena a colocação de elementos para a reflexão dos leitores. É o que faço nesse post. Embora ele fale um pouco sobre a questão tecnológica, o seu foco é a reflexão sobre o “politicamente correto”. Tanto para o bem, como para o mal, temos algumas palavras ou termos que viram verdadeiros chavões da educação. Termos como cidadania, criticidade, autonomia, desenvolvimento sustentável, entram na boca do professor, coordenador, diretor e outros educadores em geral e acaba constituindo um “educacionês”, uma língua específica falada dentro das escolas (nas quais se engloba outros termos como: fund, htpc, avaliação parcial, diagnóstica, inclusão entre outros).
Todos os termos citados acima são indispensáveis para a elaboração de um planejamento significativo do professor, seja da área que for. Entretanto, esses termos isolados e não compreendidos podem, muitas vezes, gerar mais propaganda do que ações de fato. Já vi escola particular, por exemplo, jurando de pé junto que faziam “gestão democrática”. Como é possível isso numa escola particular? Ainda mais uma escola que tem como diretora uma senhora que faz o seguinte comentário "o quê? Referendo sobre as armas? Será que esses políticos não sabem o que é democracia? A gente vota neles, deixa eles roubarem para a gente não ter que pensar, e agora querem que façamos o trabalho deles escolhendo as leis?!".
Ou ainda, ouvi recentemente um colega comentando que em certa escola foi feito um levantamento de qual tema os professores queriam que fosse trabalhado nas reuniões pedagógicas, ao que foi escolhido “autonomia”. Sem dúvida, valor esse indispensável de ser desenvolvido nos alunos. Entretanto nesse episódio, pediram para que cada professor escrevesse uma questão específica que gostaria que a discussão abordasse. E entre as sugestões havia “como faço o meu aluno me obedecer calado sem questionar nada do que faço e só fazendo o que eu mandar?” (de certo a questão era sobre o tema "Autonomia"para que ele soubesse como impedir que o aluno fosse autônomo)
Seja como for, o valor especial que trago aqui é a Cooperação, que por muitas vezes, veio como sendo completamente oposta à sua arquiinimiga, a Competição. Que morra o “espírito” de “o importante é competir” para que nasça “o importante é cooperar”. Essa maneira de jogar sem vencedores e criticar eventos de competição entre alunos, além de ensinar que competir é nocivo aos valores éticos e morais do futuro milênio, transforma essa atividade em sinônimo de guerra que traz apenas destruição e aniquilação de raças.
Entretanto, ao mesmo tempo que vejo uma grande pressão por parte de alguns teóricos e muitos educadores contra a competição, vejo que para os alunos competir é natural. Mesmo quando a escola impede toda e qualquer competição de forma oficial, sempre é possível inventar outra. Em uma destas escolas “politicamente corretas” que trabalhei, os alunos competiam vendo quem conseguia comer mais bolachas de água e sal ou cachorros quentes em menos tempo, ou quem conseguia dar mais voltas em torno de seu próprio corpo sem cair. Parece-me que a competição é inerente ao ser humano e certamente muitos autores e filósofos hão de concordar comigo.
Entretanto, a questão não está em combater uma característica humana meramente má e nociva, como Hobbes poderia defender, mas sim em perceber que a competitividade não é oposta à cooperação, muito pelo contrário, elas se completam e se auxiliam. São raros os exemplos mais cooperativos como o de um time de futebol que treina e joga junto, completa os passes de bola, cada qual em sua função cobre o erro do companheiro. Essa equipe quando se depara com um conflito mantém o foco em comum, a vitória. Entretanto, um dos fatores que garantem a cooperação dentro e fora do gramado ou da quadra, não importa o esporte, é a competição desta equipe com as demais. É preciso aprender a cooperar dentro do time para derrotar o adversário.
As Olimpíadas, fantástico momento onde o mundo se une em celebração da paz através do esporte, é um evento em si competitivo, mas que necessita da cooperação de todos os países para que seja organizada. É necessário concordar com as regras, a localização, a organização de seleções e pré-seleções em cada continente para escolher os competidores e tudo ocorre dentro do maior espírito de cooperação para garantir que a competição ocorra.
Mas e como fica a tradicional Idea da lista dos melhores alunos em ordem de nota? Isso é bom para o desenvolvimento dos alunos? Não é menosprezar os que possuem maiores dificuldades? Depende da forma como é feito. Sem dúvida ver o seu nome em última posição de uma lista não é agradável, especialmente quando estamos em um mundo educacional de inclusão das mais diversas formas. Apenas colocar a lista dos 10 melhores pode ajudar um pouco, porém ainda assim não resolverá o problema, afinal o desânimo do aluno esforçado que nunca consegue entrar nessa lista, pode criar uma categoria de “sou burro e não adianta estudar”. A solução para isso, ao meu ver, está na teoria das inteligências múltiplas. Temos em média (depende do teórico) 10 inteligências diversas que uma pessoa pode ter. Caso as competições sejam diversas em várias áreas, é bem provável que a lista de melhores alunos possa também se diversificar de modo que todos entrem em alguma. Deixando claro que cada pessoa pode ter destaque em uma área específica.
Também é importante que para que a competição funcione ela esteja unida à cooperação. De modo semelhante ao que proponho no artigo a respeito da Gincana Cultural (Copa das Casas). O que fazer com o aluno que nunca consegue se destacar dentro de sua equipe ou em nenhum dos campeonatos individuais? Conhecê-lo melhor, pois certamente haverá algo pelo que ele se apaixone, algo pelo o qual ele se dedique com amor. Ainda que ele não seja o melhor da série naquela categoria, certamente estará entre os melhores.
Mas e você, leitor, o que acha de minha opinião? Já ouvi muitas discordâncias. Agora é a hora de ouvir a sua. Ajude a tornar esse blog mais interessante e mais polêmico. Discorde de mim. Poste aqui seu comentário.
autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
(Revisado por Heloisa Machado em 20/04)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Trabalhando com Quino

Trabalhar com charges é algo indispensável nas aulas de história (além de ser uma ótima sugestão para português. geografia, inglês, espanhol, filosofia, etc.) Com seu cunho crítico e político, elas estão espalhadas por jornais, sites, revistas, um facilitador para a compreensão de textos mais complexos, que nem sempre interessam aos alunos dos dias de hoje. A charge, entretanto, pelo seu apelo visual e cômico, sempre chama a atenção.



Alguns sites de charges animadas já ganharam espaço entre os alunos, como Mundo Canibal. Sites como estes nem sempre possuem temas que podem ser muito aproveitados em sala de aula, contendo um humor negro, politicamente incorreto. Seja como for, a linguagem da charge é conhecida dos jovens e adolescentes e utilizar-se de uma linguagem previamente conhecida pode ser um bom caminho para estabelecer uma comunicação mais eficiente.

No extremo oposto de Mundo Canibal, estão as charges político-filosóficas de Quino. Ele é bem conhecido pela sua personagem Mafalda, a menina que vê criticamente o mundo a sua volta. Entretranto, o que muitas pessoas não sabem, é que Quino possui uma infinidade de outras charges, igualmente interessantes (às vezes até mais) que trabalham com os mais diversos temas. Entre suas publicações "Bem, Obrigado", cuja capa insiro abaixo. Um desenho tão simples, mas tão rico de se trabalhar com os alunos independente da temática a ser apresentada.

(veja o carimbo para descobrir o segredo)


A partir de uma percepção mais detalhada das imagem e das possíveis interpretações da mesma, é possível instigar os alunos a terem percepções mais profundas que podem ser encontradas em outros desenhos de maior complexidade. Alguns precisam da compreensão do contexto no qual eles estão inseridos. Mas Quino possui uma produção de caráter universalista, quando trabalha a questão da natureza humana. Assim, independente da época na qual o estuda, do país, do contexto histórico, da matéria ou da disciplina, é possível criar grandes reflexões mesmo sobre as charges mais simples.

Deixo aqui algumas delas com pequenas frases para reflexão. Deixo também um link de um blog específico criado com os meus alunos do 8o ano, para trabalhar a análise de produção cultural nas aulas de história focado para o 8o ano do Ensino Fundamental.

Liberdade de Expressão / Censura


Corrupção / Sistema Penal


Ser x Ter / Socialismo x Capitalismo

Crítica ao Capitalismo


Censura


Pesos e Medidas / Crítica ao capitalismo


Se enquadrar no esquema




























autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
Ilustrações: Karen Novak
(Revisado por Heloisa Machado em 20/04)

A importância do erro

Aluno que é aluno, claro, quer sempre acertar. Mas afinal, isso é justificável, quem é que gosta de errar? Às vezes o desejo de acertar é tão grande que se recorre a opções como a "cola". O desejo do acerto, da nota dez, conforme expresso poéticamente por Gabriel Pensador, motiva os alunos, muitas vezes ou quase sempre, mais do que a aprendizagem. Entretanto, em uma postura construtivista do ensino, o erro pode ser tão ou mais importante do que o acerto.



A cada erro aprendemos um pouco mais sobre o que levou nossa tentativa ao fracasso, aprendemos o caminho a não trilhar, deduzimos, ao menos em parte, o caminho certo e avaliamos nossas possibilidades. Novas tentativas vêm e isso é tão importante quanto a reafirmação do que fizemos certo. Porém, como o professor pode orientar seu aluno nesse processo uma vez que o formato formal de avaliação continua sendo apenas contabilizar os acertos? Por mais que se tenham avaliações contínuas e diagnósticas de modo a prever o avanço do aluno, ainda assim, individualmente, cada uma delas, prevê uma pontuação baseada nos acertos.

De certa forma, talvez o maior desafio ao profesor não seja premiar o acerto, mas conseguir avaliar, junto com o aluno, a origem dos erros. E normalmente, causas diferentes podem não significar uma gradação de "erro grave" ou "erro menos grave", mas apenas demonstram quais os pontos que precisam ser mais trabalhados.

Essa reflexão surgiu quando fazia a correção de uma prova de história relativamente incomum. Em especial um exercício completamente ligado à matemática, uma vez que se tratava de uma prova de coleta de dados, interpretação e análise de linhas do tempo; aplicada para o meu sexto ano.

Um exercício simples composto por uma linha do tempo com 4 datas.
1500 - descobrimento do Brasil
1822 - independência
1889 - proclamação da república
2002 - posse do presidente Lula


e 4 perguntas:
1 - Quanto tempo atrás o Brasil foi descoberto?
2 - Quanto tempo se passou desde o descobrimento até a independência?
3 - Quanto tempo se passou desde a proclamação da república até a posse do presidente Lula?
4 - Insira na linha do tempo acima a data do seu nascimento.

Mesmo para um sexto ano o exercício era simples. Não havia problematização do termo "descobrimento" não havia questionamento sobre a independência ter sido real ou não, sobre outros navegadores que teriam chegado antes. Nada do que eu certamente colocaria nas séries mais avançadas.

Ainda assim, com respostas simples e esperadas (daquelas que menos gosto: tipo "preenchimento de ficha") percebi uma multiplicidade tão grande de erros que me fez refletir muito. Não erros que demonstram falta de conhecimento, mas diferenças no pensamento, dificuldades diferentes, percebidas e mapeadas com uma simples questão.

Categorias de erro

A - Compreensão completa do funcionamento da linha do tempo, uma dificuldade de cálculo:
Nesse caso os alunos criavam contas corretas, como 2011 - 1500 , mas chegavam a resultados incorretos, como 1511. Apesar do erro de conta não havia outra fala de lógica nas respostas.

B - Dificuldade de cálculo somada à dificuldade de relação lógica dos resultados entre si:
Muitos alunos erravam apenas uma das contas, mas não percebiam que o resultado era completamente inaceitável perante os outros. Por exemplo, chegavam a conclusão que o Brasil tinha 511 anos, mas que havia se passado 1322 anos entre o descobrimento e a independência. Além de errarem o cálculo, neste caso não conseguiram abstrair a impossibilidade de o Brasil ter apenas 511 e ter mais tempo do que isso em apenas uma parte de sua história.

C - Dificuldade de unir conhecimentos prévios aos cálculos da prova:
Alguns alunos chegaram à conclusão de que havia se passado 13 anos entre a proclamação da república e a posse do presidente Lula. Entretanto, todos eles sabem que seus pais, com idades entre 30 e 40 anos, não viveram na época do império (questionei após a avaliação sobre esse fato), mas não percebiam que 13 anos era um tempo muito curto, independente de qualquer cálculo, para se chegar à "época de D. Pedro".

D - Dificuldade de compreender o funcionamento da linha do tempo:
Raros alunos encontraram essa dificuldade, que seria a única dificuldade procedimental realmente ligada à história caso fôssemos pensar nas disciplinas isoladamente (o que nunca é aconselhável de se fazer).

E - Insegurança
Por incrível que pareça um número grande de alunos cometeu erros por insegurança. Todos eles sabiam que para calcular a idade do Brasil era necessário diminuir da data atual a do descobrimento. Alguns chegaram a fazer a conta a lápis na prova. Mas como não viam escrito na linha do tempo ano 2011 se sentiram desconfortáveis achando que seria errado usar um dado que não tinha sido apresentado na avaliação. Um dos alunos até colocou "professor, você esqueceu de escrever na linha do tempo 2011. E com isso, pensando que estavam errando, erraram, por medo de utilizarem um dado que viesse deles.

Com o seu erro é possível aprender muito mais de um aluno, caso seja possível analisar com calma os motivos por trás dos mesmos, do que simplesmente vendo a resposta certa que é apenas "esperada". Claro que essa consideração envolve respostas simples como essa. Em questões dissertativas e argumentativas a separação entre erro e acerto não é tão facilmente discernida e o desenvolvimento das respostas e da argumentação das mesmas é o mais importante, sendo possível avaliar com mais cuidado, tanto o erro quanto o acerto (e normalmente algo entre os dois).


autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
Ilustrações: Karen Novak
(Revisado por Heloisa Machado em 26/04)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Enquetes com os Alunos

Lembro-me muito bem da primeira vez que vi um professor passar uma enquete aos alunos, para descobrir o que achavam da sua aula, foi na USP em um curso que fiz numa sala com mais de uma centena de alunos. Nesse curso, o professor revoltado dizia que, pela lei, ele teria de passar aquele papel, mas que ele achava ridículo ser julgado pelos alunos e que isso era inadmissível.



Compreendo, em parte, o discurso dele, uma vez que realmente seria ridículo uma escola julgar o professor pelo que os alunos falam dele. Especialmente nas salas de séries mais básicas é muito fácil um professor medíocre ganhar a atenção dos alunos cancelando todas as aulas e substituindo por mero entretenimento, enquanto que um professor que faça uma cobrança um pouco mais firme seja odiado e seu valor só reconhecido em anos posteriores.

Apesar disso, fazendo da forma correta, a possibilidade de saber mais sobre a opinião dos alunos, o que acham das aulas, quais as são suas maiores dificuldades, pode ser uma ferramenta incrível ao professor. Ao meu ver, o primeiro elemento para que isso ocorra é o fato da enquete ser feita pelo professor e não pela escola. Desta forma ele usará os resultados para refletir a sua prática, sem se preocupar com alguma consequência negativa ou punição para ele.

Ao final de cada semestre passo aos meus alunos um pequeno questionário composto por 5 perguntas:

1 - Qual a matéria que você mais gostou?
2 - Qual a matéria que você menos gostou?
3 - Qual o aspecto no formato da aula que você achou mais interessante?
4 - Qual foi a aula mais criativa que OUTRO professor aplicou durante o ano?
5 - Faça seus comentários pessoais sobre a aula e a matéria.

Através da respostas posso mapear as dificuldades da sala, replanejar o próximo semestre ou o próximo ano. Sobre a questão 4, tenho costume de brincar com os alunos que essa é a "questão espiã" para eu poder também me apropriar das estratégias de outros professores que eles acham interessante.
Essa enquete não tem o poder de transformar a aula em si. Por exemplo, se todos os alunos dissessem que não gostam de feudalismo, por exemplo, isso não me fará tirar esse conteúdo, mas, sim, tentar pensar em novas formas e estratégias para torná-lo mais interessante no próximo ano.

Essa é uma enquete simples, entretanto, com a facilidade tão grande de se criar enquetes online, comecei a deixar algumas enquetes constantes em meu site para os alunos www.profleandro.com

Veja aqui que interessante o resultado de algumas delas:


Que atividades você prefere fazer nas férias?



Que tipo de aulas você mais gosta?


Neste caso tenho de admitir, jamais imaginaria que as aulas de debate fossem tão populares, ou que "matéria nova" fosse a segunda mais popular, ou ainda que qualquer pessoa votasse em "correção de prova" ... sinceramente, as minhas aulas de imagens que eu achei que fossem o ponto forte, precisavam ser melhoradas.

Quão frequentemente você estuda?


O mais interessante é ver a honestidade deles, uma vez que a pesquisa é online e anônima.



O que você gosta de fazer em seu tempo livre?


Pelo resultado dessa eu já esperava.


O que você mais gosta de aprender nas aulas de história?


Sem dúvida o resultado dessa foi o que mais me chocou! Fiquei impressionado, uma vez que sempre havia sido um dos focos de minha aula e nunca imaginei que isso pudesse ter sido passado com tanta clareza aos alunos.


O que você achou da ideia de fazer lições on-line?


Após horas a fio montando o site, foi recompensador.



autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com

Ilustrações: Karen Novak


(Revisado por Heloisa em 25/04/2011)



domingo, 20 de março de 2011

Objetivos Procedimentais, Conceituais e Atitudinais

Em seu livro Prática Educativa, Antoni Zabala nos apresenta um interessante modelo de planejamento para que os professores e a escolas se utilizem. A versão original era de C. Coll. Trata-se da divisão dos objetivos do professor em 3 itens distintos: Objetivos Conceituais, Objetivos Procedimentais e Objetivos Atitudinais.

Em linhas de regras, podemos definir:

Objetivos Conceituais são aqueles que antigamente eram chamados de "matérias" ou "conteúdos", ou seja, elementos específicos dentro do saber daquela disciplina, como: O que é constituição, como se inicia a Idade Média, o que é uma República, e assim por diante. Objetivos que em geral os professores sempre levam em conta em seu planejamento

Objetivos Procedimentais são aqueles que estão relacionados a procedimentos, ou seja, aprender a fazer. No caso de História, por exemplo, temos a análise de documentos, leitura de textos históricos, relacionar duas épocas históricas, a habilidade de compreender as estruturas de governos, de analisar criticamente uma situação, capacidade de se expressar com clareza, seja oralmente ou na escrita. Todos esses objetivos que devemos ter claros em mente na hora de preparar um currículo. Mesmo na escola tradicional muitos professores já pensavam em tais objetivos, a questão é que, devemos, segundo nossa nova ideia de escola, ter em mente que esses itens são tão importantes quanto os primeiros, e não apenas "algo mais" ou "coisa desse professor em especial"

Objetivos Atitudinais são o tipo mais complexo de objetivos. Uma vez que eles estão relacionados ao "ser" enquanto os conceituais são o "o que se aprende" e os procedimentais são "O que o aluno é" ou seja, está relacionado ao conjunto de valores, atitudes, coisas interiorizadas em um nível tão intenso que fazem parte da personalidade do aluno. Esse ítem engloba situações como: Participação cidadã democrática, respeito às diferenças culturais, dedicação ao estudo, curiosidade, vontade de aprender, entre outros.

Muitas vezes os professores usam essa parte de "Atitudinais" colocando em pauta apenas elementos como "prestar atenção na aula" "não conversar" ... certamente isso está relacionado a atitudes, entretanto devemos lembrar que Atitudinais não representa APENAS comportamentais, e sim interiorizações que serão levadas para a vida toda.

autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com

(Revisado por Heloisa em 30/04/2011)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Edgar Morrin e os Sete Saberes

Às vezes, os teóricos da educação irritam. Muitos escrevem longos textos sobre como os professores deveriam trabalhar com os alunos sem nunca terem entrado em uma sala de aula. Psicólogos que têm, tempo individual com cada pessoa e não têm de fazer cobrança alguma, querem que tenhamos a mesma aproximação que eles, independente de termos salas lotadas e não podermos agir na situação da comodidade. Alguns destes teóricos trabalharam a vida inteira com não mais do que dez crianças, às vezes, pegando uma fase apenas da infância inicial e ainda assim criam teorias que devem ser repassadas para toda a trajetória escolar.



Entretanto, um filósofo e teórico da educação, que ao meu ver, merece respeito é Edgar Morrin. Por isso resolvi comentar uma das obras dele, escrita para a UNESCO, que é "Os sete saberes necessários à educação do futuro". Este livro, escrito em 1999, elenca sete eixos que devem nortear o professor ao preparar suas aulas e as próprias escolas, ou mesmo governos, para nortear suas políticas educacionais.

1 - Erro e Ilusão
Um possível resumo deste saber é "O maior erro que alguém pode cometer é crer que exista um conhecimento que não seja passível de erros, e o adote por absoluto. A maior ilusão que alguém pode ter é a ilusão de que é possível cancelar todas as ilusões, e criar um conhecimento verdadeiramente objetivo, imparcial, real."
Ou seja, é importante ao professor saber que SEMPRE há possibilidade da aula não sair como ele queria. Ele deve ensinar aos alunos que aquele saber não é absoluto, que está em construção, que pode ser modificado, melhorado, e essa busca pela melhora é essencial.

2 - Conhecimento Pertinente
Só faz sentido ensinar algo se isso for, de alguma forma, útil. Não útil no sentido de servir para educar o aluno a cumprir uma função maquinal em uma linha de produção. Útil no sentido mais amplo, desde resolver os simples problemas da vida, a permitir uma reflexão que liberte a mente de preconceitos. Neste sentido é necessário estabelecer as relações entre o universal e o específico. Compreender a importância daquele conhecimento dentro de um todo.
Essa reformulação é muito mais complexa do que a ação de um só professor, mas é indispensável. Veja que isso não significa excluir matérias. Por exemplo .. há sentido ver pré-história nas aulas de história? CLARO QUE SIM, ela permite compreender que os seres humanos desde épocas muito antigas já sabiam lidar com dificuldades, usar o raciocínio para as superar, inventar ferramentas. Na pré-história havia música, o que demonstra a criatividade da alma humana, etc.

3 - Ensinar a condição humana:
Em essência, segundo Morrin, essa condição se divide nas categorias: físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Sendo importante demonstrar como que essas dimensões se correlacionam entre si e todas devem ser exploradas pela escola

4 - Ensinar a identidade terrena:
De um lado, por indentidade terrena existe a compreensão mais ligada à ecologia, importância da Terra, mas não é só isso, também temos a questão de estarmos "todos no mesmo barco" assim sendo, a indentidade humana como um só grupo que convive no mesmo planeta e precisa se respeitar, estando esse ítem unido ao anterior

5 - Enfrentar as incertezas
O professor e a escola devem preparar o aluno para enfrentar as incertezas, isso sendo muito mais importante do que enchê-los de certezas que poderão ser contestadas ora ou outra, uma vez que, segundo o item 1, nenhum conhecimento é 100% garantido de ser livre de erros. É mais importante ao professor demonstrar e preparar o aluno para viver com suas incertezas do que criar a ilusão de que a escola o deixará 100% preparado para a vida.

6 - Ensinar a Compreensão
Também no sentido duplo da palavra, tanto compreensão no sentido da pessoa ser compreensiva com os erros dos outros e seus próprios, no sentido de respeitar, auxiliar. Como também no sentido de ser uma pessoa que busque ativamente compreender criticamente o mundo à sua volta, interagindo com ele.

7 - Ética do Gênero Humano
Compreendendo por esse item tanto a questão da ética, enquanto valores internos que regem a convivência em grupo e sociedade, como a ética de forma mais coletiva, como a política, a organização e estrutura das sociedades e os valores que estão por trás das ações. Novamente com uma interpretação crítica do mesmo.

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Por vezes, esses eixos são completamente genéricos, mas talvez seja justamente o fato de serem genéricos que os torne tão valiosos, uma vez que, podem ser aplicados praticamente em qualquer situação, disciplina ou realidade. Não trazendo nenhuma regra específica, mas valores norteadores.

autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
Ilustrações: Karen Novak


(Revisado por Heloisa Machado em 30/04)

terça-feira, 15 de março de 2011

Como Aplicar provas ou atividade online

Antes de tudo deixo para os leitores uma opinião pessoal. Não creio que seja possível, hoje, substituir a avaliação escrita, e creio que sendo preciso rever a forma como pensamos a avaliação (e é) isso vai muito além da forma escrita ou eletrônica da mesma.



Ainda assim, há uma série de ferramentas da Internet que nos facilitam a aplicação de atividades on-line, de modo que os alunos possam se sentir mais a vontade em realizá-las por estarem acostumados com a nova tecnologia (a chamada geração Z, que já nasceu na existência da Internet). As últimas pesquisas do IBGE - PNAD - demonstram que mais de três quartos da população brasileira já possui acesso à internet, seja em casa, no serviço ou através de lan-houses. Desta forma nada mais útil do que pensar que as lições possam ser também realizadas de forma on-line ou que a escola possa oferecer ao aluno, em uma sala de informática, a possibilidade de realizar avaliações com o auxílio do computador. Especialmente em um mundo onde, muito provavelmente o aluno vá trabalhar em alguma função que já seja feita através do computador ou em pouco tempo (quando ele se formar) poderá ser realizada com o auxílio do mesmo.

Neste post eu tratarei de dois temas diferentes,de igual importância:
1 - Ferramentas on-line que facilitam a aplicação de atividades na web
2 - Diferenças da forma de se pensar a avaliação do aluno uma vez que esta esteja sendo realizada virtualmente

FERRAMENTAS:

Há, basicamente, três ferramentas diferentes que podem ajudar o professor na criação das atividades on-line. Cada uma em seu nível de complexidade e com suas vantagens.

1 - GoogleDocs:

Para utilizar-se desta ferramenta basta ter uma conta Google (Gmail ou Orkut) .
Na página do google clique no "mais" e selecione "Docs"


Crie uma nova planilha

Antes de tudo, é preciso dar um nome à ela. Quando tiver um nome será salva automáticamente com o nome escolhido.


Crie então um formulário

No formulário você poderá adicionar uma série de recursos, criar questões de múltipla escolha, de gradação de 0 a 10, de seleção de caixa de opção, etc.
Após criar o formulário, você pode mudar o tema e deixá-lo agradável de ser visto pelos alunos.

Para enviar o formulário aos alunos, basta selecionar o link que fica lá embaixo na página.


Veja aqui como ficou o exemplo criado (e aproveite para responder à minha enquete)


Outra opção muito interessante é o site Proprofs específico para professores e possui uma série de recursos a mais do que o GoogleDocs. O único inconveninente é que é pago (poucos reais por ano!! mas é pago).

As vantagens são
1 - Assim que o aluno acaba de clicar na resposta, caso você deseje, a lição se auto-corrige e entra para você corrigido.
2 - Pode-se inserir vídeos e imagens.
3 - Você tem relatórios mostrando o desempenho dos alunos.
4 - O tempo que o aluno demorou pra fazer a lição (o que pode ser muito útil para cobrar dedicação, por exemplo)
5 - Sorteia, aleatoriamente, questões de um banco, e caso o banco seja razoavelmente grande, é possível que vários alunos façam a mesma prova sem nunca repetí-la.

Como esse é pago, não sei se tenho direito de divulgar as imagens dele aqui. Mas criei uma "lição" para vocês testarem e ver como funciona. Ela está aqui

Veja como é interessante a opção da auto-correção e da nota final automática.


autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
Ilustrações: Karen Novak


(Revisado por Heloisa Machado em 30/04)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tirando Informações das Imagens

Um dos péssimos defeitos dos livros didáticos é que, por vezes, o uso de imagens é para efeito meramente decorativo. A leitura de uma imagem é tão importante quanto a leitura de um texto escrito, e com o nosso mundo cada vez mais imagético, essa análise fica ainda mais importante.
Trabalho com os meus alunos desde cedo essa atividade (6º ano)

Vou compartilhar com vocês aqui algumas reflexões que faço com o 6º ano, analisando duas imagens pré-históricas.


No título, o óbvio: "cena de caça". Esta imagem tão rica, às vezes, serve apenas como uma mera e simples ilustração perdida, mas veja a quantidade de elementos que podemos tirar dela com uma análise mais cuidadosa.
1 - Os homens estão todos de um lado e os animais de outro, isso demonstra organização, muito provavelmente pela fala já desenvolvida.
2 - As armas são claramente arcos e flechas, o que demonstra toda uma técnica de produção de cordas.
3 - Eles estão atirando nas fêmeas adultas e não no macho, que vem atrás. Isso demonstra uma técnica de caça, inteligente por sinal, afinal matar os filhotes seria tolice, matar o macho seria difícil e acabaria com as futuras gerações.
4 - Preste atenção como as flechas se concentram em uma mesma fêmea, demonstrando planejamento.
5 - As flechas acertam de frente, no peito, demonstrando conhecimento da anatomia do animal caçado, flechada no coração.






Em comparação com a anterior, temos outra imagem riquíssima, que não raro, passa despercebida, e vez ou outra, com o título errado (já vi nesta imagem o título "Cena de caça" (tudo que ela não é).
Primeiro, veja que não há qualquer instrumento de caça. Não tem lanças, flechas nem nada do tipo. Os animais estão apenas sendo levados para um certo local, provavelmente um pasto ou curral.
Veja que aqui cada animal é detalhadamente marcado em suas manchas específicas, demonstrando como são diferentes entre si, em vez de fêmeas genéricas como na imagem acima. Isso dá ideia de posse de cada animal, é preciso destacar o seu animal dos outros.
Podemos ver no centro, dois seres humanos representados maiores do que os outros, e ainda possuem algo na cabeça, demonstrando uma hierarquia, eles são mais poderosos.
Temos também pessoas apenas sentadas, sem estarem envolvidas com os animais representados, explicitando a evolução da caça para a domesticação de animais que permitia mais tempo livre, e portanto, trabalhos especializados.
Temos crianças sendo instruídas.
Se bobear ainda há quem consiga jurar de pé junto que há jogos ou brincadeiras na imagem (embora isso seja uma inferência de menor grau de certeza)

..

Ou seja, professor, explore as imagem com seus alunos, os ajude a ver. Essa é uma habilidade essencial no mundo contemporâneo.
Posteriormente, se for de desejo dos leitores, farei outros posts de análise de imagem.


autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com

(Revisado por Heloisa Machado em 03/05).

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